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Sem possibilidades de manter o aviário, Éderson Walter passou a plantar fumo e comercializar eucalipto para garantir o sustento da família (Foto: Juliana Bencke)

Dificuldades com distribuição de energia atraso o desenvolvimento

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Há cerca de dez anos, Éderson Moisés Walter (33) precisou fazer uma escolha. Trocou a criação de quase oito mil frangos no aviário de 60 metros quadrados pelo cultivo do fumo e a venda de eucalipto. A renda de hoje, que sustenta ele, a esposa Marciane e a filha Raiane, equivale à metade do que poderia ganhar com a avicultura. O trabalho também é mais exaustivo: além de trabalhar sol a sol, na lavoura, Walter convive com mosquitos e cobras, no corte das árvores.

Apesar da preferência pelo trabalho com a criação de frangos, um único motivo tornou insustentável a manutenção do aviário: a energia elétrica. A baixa potência da rede não suporta uma carga elevada – quando muitos equipamentos são ligados ao mesmo tempo, ocorre queda de energia. Além disso, postes velhos de madeira e mato na rede elétrica facilitam estragos em chuvas e vendavais, que resultam na falta de luz.

Na localidade de Arroio Galdino, uma das áreas do interior de Sério onde a distribuição de energia está a cargo da AES Sul, as quedas de energia são comuns. Walter estima que a cada mês, ocorram três ou quatro. Em uma ocasião, a família chegou a ficar seis dias “no escuro”. Quando falta luz, também falta água – a bomba que tira a água do poço não funciona sem energia elétrica.

Na época em que o sustento da família era tirado do aviário, a solução era transportar em torno de três mil litros em baldes, de carroça, para abastecer as aves e impedir que morressem de sede. Sem poder utilizar os ventiladores, elas morriam de calor. Um triturador comprado para facilitar o trabalho precisou ser devolvido pois a capacidade da rede não suportava sua utilização. “Não tinha mais condições”, desabafa.

Apesar de ter mudado de ramo, as dificuldades com a energia elétrica ainda impactam a rotina de Walter. Com o fumo pronto para ser colhido, ele não quer arriscar. Vai esperar a chegada do gerador de energia de cerca de R$ 6,3 mil, nos próximos dias, para ter a garantia de que a estufa elétrica não terá o funcionamento interrompido. “Não tem como ter tranquilidade ficando só com a energia (da rede)”, relata.

Assim como Walter, outros agricultores têm aderido à compra de geradores a fim de assegurar o pagamento das contas no fim do mês. Até novembro, 48 projetos para eletrificação com foco na geração de energia e financiamento de geradores passaram pela Emater regional, que abrange os Vales do Taquari e Caí. O número representa um aumento de mais de 166% com relação ao último ano, quando foram 18 projetos, e a 2012, quando foram 20.

Sem energia, sem oportunidade

Éderson Walter é um dos dois avicultores das localidades de Sério abastecidas pela AES Sul que abandonaram o negócio, por causa dos problemas de energia elétrica. Outros dois, desistiram da ideia antes de começar. Além da falta de potência, a frequência com que ocorrem as quedas de energia e a demora no religamento motivam as decisões.

“Muita gente saiu desses locais porque não tem como investir nessas propriedades”, afirma o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Sério, Leandro José da Silva. Ele observa que, mesmo tendo dinheiro para incrementar o negócio, os agricultores não conseguem utilizar equipamentos potentes por conta da rede elétrica e deixam de qualificar o processo produtivo. O reflexo do problema ultrapassa as propriedades rurais e abrange a economia do município, dependente mais de 50% da produção de frangos.

“O produtor está limitado pela qualidade da energia elétrica no interior. Toda uma oportunidade é barrada pela infraestrutura básica”, complementa o gerente-adjunto da Emater regional, Diego Barden dos Santos. Para ele, questões como a da energia elétrica contribuem para o êxodo rural e impossibilitam a sucessão familiar no campo. Walter já pensou muitas vezes em deixar Arroio Galdino, onde vive desde criança. Só não foi embora porque não há compradores que paguem o investimento na propriedade de 19,6 hectares, incluindo uma estufa de quase R$ 26 mil e a casa de alvenaria de R$ 100 mil. “Quem é que vai querer comprar? Só quem vive aqui para saber o quanto a luz faz falta”, desabafa.

Com dois anos, a filha Raiane convive com a situação da falta de luz desde que nasceu. O primeiro dia dela em casa, depois de voltar do hospital, foi sem energia elétrica. Quando falta luz, ela já mostra com os dedos quantos dias precisam ser esperados para tudo voltar ao normal: dois ou três.

Investimentos da AES Sul

Com cerca de 80 mil clientes no Vale do Taquari, a AES Sul tem investido em melhorias no sistema de transmissão e distribuição de energia. Nos últimos três anos, mais de R$ 100 milhões foram aplicados em ampliações de subestações (em cidades como Encantado, Lajeado e Estrela), instalação de novos alimentadores (em Encantado e Roca Sales), troca de postes e expansão da rede.

Segundo o coordenador operacional da AES Sul no Vale do Taquari e do Rio Pardo, Ricardo Slaghenaufi Neto, os problemas encontrados em Sério e Coqueiro Baixo estão sendo estudados e solucionados. “Coqueiro Baixo é vinculado à subestação de Encantado. Antes, tinha um alimentador que abastecia Nova Bréscia, Coqueiro Baixo, Doutor Ricardo e Relvado. Então, a gente construiu mais um alimentador, em direção a Nova Bréscia e Coqueiro. Agora, um atende os dois municípios e o outro atende Doutor Ricardo e Relvado”, explica.

Slaghenaufi Neto acrescenta que, na região de Sério, o abastecimento é feito por Santa Cruz do Sul, e que já há uma obra em andamento para instalação de um alimentador que melhoraria o atendimento na cidade. “Mas ela está parada devido a problemas de licença ambiental, licença para linhas de transmissão e devido à estrada também. Assim que os trâmites burocráticos forem superados, deve melhorar substancialmente o fornecimento para o município”, enfatiza.

Sobre a baixa de potência, o coordenador operacional argumenta que não é relacionada ao alimentador, mas sim ao aumento da necessidade de energia na região. “Algumas famílias dizem que a luz é fraca. Provavelmente, a pessoa tinha luz monofásica, e resolveu instalar um aviário, com ventiladores, equipamentos. Mas a energia que ele possui não foi feita para se ter um aviário na propriedade. Por isso, essa pessoa precisa fazer um pedido para aumento de carga, de monofásica para trifásica. O problema é que a trifásica tem custo adicional – parte dele é pago pela empresa, mas a outra parte, de acordo com a legislação, é responsabilidade do cliente”, argumenta.

De acordo com o secretário da Agricultura e Meio Ambiente de Sério, Luciano José da Silva, após um manifesto de agricultores do município e uma audiência com a AES Sul, três semanas atrás, a empresa comprometeu-se com a manutenção e limpeza da rede. Em municípios onde a distribuição de energia está a cargo de cooperativas, os relatos quanto à potência e a manutenção são positivos. Inclusive em Sério, onde, com exceção das localidades de Colônia Sério, Arroio Galdino, Alto Sampaio e Alto Arroio Alegre, que são abastecidas com energia pela AES Sul, as outras áreas não registram problemas com a distribuição de energia feita pela Certel Energia. Conforme a cooperativa, investe-se anualmente no sistema elétrico de acordo com o planejamento, considerando os indicadores de incremento no consumo, com qualidade e continuidade dos serviços prestados.

Prejuízo com queda da energia

Cada vez que começa a chover, João Conte Neto (60) fica atento, receoso de que as próximas horas sejam sem energia elétrica. Morador de Picada Serra, em Coqueiro Baixo, o agricultor não consegue esquecer as vezes em que as quedas de luz resultaram em prejuízo na propriedade rural, onde ele, a esposa e um filho trabalham diretamente. “Nosso problema é o mato em volta dos fios e postes velhos. Se dá um vento, um temporal, já ficamos sem luz”, conta. Segundo ele, além da estrutura antiga da rede elétrica, com postes de madeira de cerca de 30 anos, árvores de eucalipto e acácia próximas à rede têm complicado a situação.

A última queda ocorreu há cerca de 20 dias e fez com que a família ficasse 86 horas, o equivalente a três dias e meio, sem luz. Conte Neto cansou de ouvir a “música enjoada” nas ligações que fazia à AES Sul, solicitando o reestabelecimento da energia. Não bastasse isso, foram cerca de R$ 4 mil de prejuízo na criação de 13 mil frangos e na produção leiteira de 16 vacas. A ração teve de ser distribuída à mão, as aves perderam peso e o leite azedou, sem o resfriamento necessário. Mais de mil litros não puderam ser entregues à cooperativa. “O leiteiro não podia levar porque estava azedo.”

CIC Vale do Taquari

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