Com 38 páginas, a radiografia da produção de leite no Rio Grande do Sul foi apresentada na última sexta-feira, dia 29 de maio, durante a 38ª Expoleite, no Parque Estadual de Exposições Assis Brasil. O estudo elaborado pelo Instituto Gaúcho do Leite (IGL), em parceria com a Emater/RS-Ascar e entidades sindicais rurais, apresenta um cenário a ser modificado. Quase a metade das propriedades gaúchas produzem abaixo do que a indústria considera lucrativo.
Para o presidente da Regional dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, Luciano Carminatti, a própria indústria motivou esse fenômeno. Segundo ele, a valorização pela maior quantidade, por vezes achatou o preço do leite pago aos menores, inviabilizando a qualificação do campo.
Carminatti critica a medida. “Houve uma época que o valor pago tinha uma diferença de R$ 0,40 por litro, quando o ideal e o que o próprio IGL prega é a valorização pela qualidade”, pontua.
Por conta da menor remuneração, os pequenos produtores de leite ficaram para trás frente as grandes fazendas que além de alcançarem maior rentabilidade com o produto conseguiram investir em qualidade e modernização. “Isso é o esperado na produção primária, atingir a excelência para ampliar o ganho”, define.
O diretor executivo do IGL, Orêno Ardêmio Heineck, explica que o revés dessa situação pode estar na aplicação de um programa federal no Estado. Heineck diz que o Programa Alimento Saudável da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) tem metas para a cadeia leiteira.
O programa funciona por meio da inserção de profissionais técnicos junto aos pequenos produtores, na intenção de elevar o grau de conhecimento. “A maior produção e a implantação de tecnologia são consequências nesse processo”, aponta Heineck.
Genética
No que se refere à qualidade do rebanho, o Vale do Taquari aparece com destaque no levantamento do IGL. O porcentual de propriedades com melhoramento genético alcança 91,2%. Entre as raças mais encontradas na região estão os animais de origem holandesa, que representa também a maioria do rebanho gaúcho: 58,4%.
A inércia do Estado
Segundo o diretor executivo do IGL, o Programa de Erradicação da Brucelose e Tuberculose, que teve como modelo a aplicação no Vale do Taquari, na Comarca de Arroio do Meio, está praticamente parado.
A iniciativa de promover a sanidade do rebanho no Rio Grande do Sul – segundo maior produtor de leite do país -, esbarra na falta de ação da Secretaria Estadual da Agricultura e Pecuária (Seapa). “O governo não tem dado a atenção necessária com a destinação de recursos e investimentos na saúde dos rebanhos. Nós temos todas as atividades moldadas pelo programa piloto de Arroio do Meio, mas não temos como executá-lo”, alega Heineck.
Saiba mais
O levantamento apresentado na sexta-feira, foi realizado de 22 de abril a 13 de maio pelo Instituto Gaúcho do Leite (IGL), em parceria com a Emater/RS-Ascar, Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag), Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul (Fetraf-Sul) e a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) nos 497 municípios do RS. A pesquisa contou com o auxílio das prefeituras e secretarias municipais, sindicatos de trabalhadores rurais, Inspetorias de Defesa Agropecuária, Conselhos Municipais de Agricultura, indústrias, cooperativas e empresas.
O instituto programa agora elaborar um relatório detalhado e regionalizado, que será disponibilizado em todos os escritórios da Emater/RS-Ascar no Rio Grande do Sul.
Com esses dados regionais, os municípios e órgãos públicos poderão definir estratégias para o desenvolvimento da cadeira produtiva do leite em cada bacia produtora. O estudo deve ser entregue no segundo semestre deste ano.