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Luiz cultiva, também, banana-da-terra (Foto: Deolí Gräff)

Família Mallmann alia diversificação e sustentabilidade

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Na localidade de Alta Forquetinha, interior do município de Canudos do Vale, reside a família de Luiz e Flávia Mallmann. Eles dão exemplo de diversificação e sustentabilidade. Em uma área de 18,6 hectares eles produzem de tudo. “A gente faz o que é possível”, conta Luiz Mallmann, que tem o auxílio da esposa Flávia, do filho Natan (17) e da sogra Elsa Lazzari Fontana (80). A filha Carine, que é formada em técnica agropecuária e em Administração pela Univates, trabalha em um escritório em Lajeado. “Nós gostaríamos que ela voltasse para ajudar a tocar a propriedade”, revela a mãe. A vó Elsa auxilia nos serviços da cozinha, cuida da horta e do jardim.

Para buscar orientações e esclarecer dúvidas, eles recorrem ao Escritório da Emater/RS-Ascar. A extencionista Graziela Cândida Petry auxilia com informações técnicas. “O bom é que eles (família Mallmann) assimilam as orientações e colocam em prática. São muito dedicados e esforçados”, elogia Graziela.

A principal atividade é a plantação de fumo. Na última safra, plantaram 45 mil pés. Paralelo a esta atividade, a família mantém uma série de outras culturas vegetais e criação de animais. “Nossa intenção é deixar o fumo e partir para outras culturais”, revela Flávia.

Um dos projetos de diversificação foi a construção de duas estufas de morangos onde cultivam 5,1 mil pés. A produção anual passa de 1,5 mil quilos, que é toda comercializada na região do Vale do Taquari. Para implantar esta atividade, contaram com o apoio do Escritório Regional da Emater/RS-Ascar de Lajeado. O engenheiro agrônomo Derli Paulo Bonine auxiliou a família em todas as etapas, desde a construção das estufas, sistema de produção, escolha das mudas e orientação técnica de manejo.

“O diferencial dos nossos moranguinhos é que não usamos nenhum tipo de produto químico, nem adubo e herbicida”, afirma Luiz. Ele destaca que a adubação é orgânica e o combate as pragas é realizado com produtos biológicos. “Nosso objetivo é produzir uma fruta mais saudável e evitar agressão ao meio ambiente”, revela Flávia.

Para proteger as estufas do vento, foi feita uma barreira natural com a plantação de bananeiras da variedade Prata. É uma cultura que se adapta fácil ao solo. De quebra, ainda colhem bananas para o próprio consumo, além de doar para entidades e outras famílias. “Numa consulta que fiz a um técnico da Embrapa, ele conseguiu três mudas de uma variedade melhorada da banana da Terra”, explicou Luiz. “Os pés já produziram e os cachos são de excelente qualidade”.

Peixes

Os morangos descartados servem de alimento para as carpas capim criadas no açude perto de casa. As cascas de bananas e de outras frutas também vão para o açude.

Outra parte de sobras é usada para tratar aos suínos e as vacas. “Aqui não se perde nada, tudo é aproveitado”, assegura Luiz.

Carne e outros alimentos

Na estrabaria e no potreiro, estão quatro vacas que produzem leite. Parte dele é transformado em queijo. No chiqueiro são criados suínos para a carne que não pode faltar na cozinha. E do galinheiro vem os ovos e a carne de frango. “Dá trabalho cuidar dos animais, mas compensa, porque é tudo produzido livre de agrotóxicos e venenos”, afirma Flávia.

Todo rebanho é tratado com pasto, milho e outros alimentos produzidos na propriedade. Embora a produtividade seja menor, o sabor da carne, do leite e dos ovos é diferenciado.

Ingredientes para boa mesa

Na horta tem de tudo: temperos, hortaliças e legumes, que se renovam a cada estação do ano. A cebola e o alho consumido pela família são cultivados na roça. Para manter o ano inteiro, a cebola é trançada em pencas, o alho, em cachos, e ficam pendurados no porão do paiol, em lugar aberto e arejado. “Aqui temos alho e cebola para o ano inteiro, cultivada ecologicamente”, assegura Flávia.

Eles também plantam pepinos, que são guardados em vidros de conserva no porão da casa. Na roça tem área destinada para o aipim, batata doce, feijão, milho e outras culturas. “O excedente nós vendemos, e nos proporciona renda extra ao fumo”, afirma Luiz.

Frutas o ano todo

No “cenário” atrás do açude está uma nogueira que, segundo os cálculos do Luiz, deve ter mais de 35 anos. Ela produz, em média, de 350 quilos da fruta por safra. Em diversos lugares da propriedade estão plantadas árvores frutíferas. Em cada época do ano tem sua fruta e aqui sempre tem alguma madura.

Parte delas são processadas e viram geleia. No porão da casa foi destinado espaço para produzir os doces de figo, pera e morango. “Este é um capricho meu. Sempre que tem fruta madura e não comemos tudo produzimos geleia para consumir ao longo do ano”, conta Luiz.

Do parreiral vem a uva, do qual é feito o vinho, que Luiz e a sogra bebem todos os dias. É tradição dos dois. Tomam pelo menos um copo de vinho depois do almoço. “Minha mãe tem 81 anos e é sagrado para ela beber um copo de vinho diariamente”, afirma Flávia.

Abelhas ajudam na polinização

Para a polinização das plantas, Luiz mantém na propriedade três espécies de abelhas nativas: tubuna, jataí e mirim. Ele conta que já foi apicultor. “Teve uma época que nós tínhamos umas 60 caixas de abelhas de ferrão, mas decidimos parar”.

Por causa da importância na polinização das plantas, Luiz mantém apenas alguns enxames de espécies nativas. “Não é nem pelo mel e sim por causa da contribuição delas ao meio ambiente”, afirmou. Alguns enxames ele transferiu para caixas que estão afixadas na parede do paiol e outras mantém em tocos de árvores.

A produção é sustentável

A preservação do meio ambiente é uma prática natural na propriedade da família Mallmann. Com exceção do fumo, o adubo utilizado em todas as plantações é orgânico. O combate as pragas é feito com produtos biológicos. “Nosso objetivo é produzir alimentos sustentáveis para nossa família e também as para as outras pessoas que consomem os produtos que saem da propriedade”, afirma Flávia. Ela reconhece que a produtividade é menor. “Nós abrimos mão da quantidade em troca da qualidade. Nossa preocupação é por uma vida mais saudável”, completa Flávia.

“A diversificação é uma característica da produção familiar”

O engenheiro agrônomo da Emater Derli Paulo Bonine elogia a dedicação e o espírito empreendedor da família Mallmann. “Eles são um exemplo de como é possível produzir e obter renda com a diversificação de culturas”, elogiou. “O Luiz e a Flávia são muito dedicados e têm vontade de trabalhar”.

Segundo Bonine, a diversificação de culturas é uma característica da produção familiar em pequenas propriedades. Ele explica que a diversificação consiste em cultivar várias espécies vegetais, criação de animais e, com esta atividade, alcançar renda. Já a cultura de subsistência ou de segurança alimentar, é aquela em que a família produz para o autoconsumo.

Ele salienta que o Vale do Taquari tem forte característica de diversificação. Cita como exemplo as agroindústrias familiares. “Nós poderíamos multiplicar por cinco a atual produção das agroindústrias existentes e teríamos mercado consumidor. A demanda ainda é bem maior que a oferta”.

Entre os produtos em que o consumo é maior que a oferta estão: pepino em conserva, ovos e galinhas coloniais, melado, mel e muitos outros. “Precisamos chamar atenção para a produção dentro de padrões de qualidade e de higiene, para poderem ser consumidos sem riscos para a saúde pública”.

Ele enfatizou que “as agroindústrias em atividade na região tem inspeção municipal ou estadual e trabalham com boas práticas de higiene, o que resulta num produto final de qualidade”.

Tradição

Bonine recomenda às famílias que desejam diversificar sua produção para que invistam em áreas que já tem histórico familiar. “Ou seja, produzir aquilo que a família já tem algum conhecimento ou criar as espécies de animais existentes na propriedade. Isto vai facilitar porque já se tem noções básicas, além de manter a tradição familiar. “Assim, por exemplo, se na propriedade há um sistema de produção de queijo, deve aperfeiçoar esta atividade. Se tem aptidão em produzir frutas ou hortaliças, deve buscar novos conhecimentos para fazer os melhoramentos necessários”.

O agrônomo da Emater reconhece que a diversificação exige trabalho e dedicação. “Também é preciso estudar o uso de tecnologias de manejo e o melhoramento genético de plantas e animais”, afirmou ele. Citou o exemplo da família Mallmann, que tem grande variedade de culturas. “Para chegar no ponto em que estão, correram riscos e fizeram apostas que deram certo”.

Bonine também cita a produção sem o uso de agrotóxicos. “A produção de alimentos ecológicos não alcança a mesma produtividade das lavouras que aplicam fertilizantes químicos. O ganho está no preço e na qualidade para a saúde”. Ele salientou que quem já está fazendo a diversificação ou quem pensa em começar, o importante é buscar orientação técnica, para evitar erros e alcançar bons resultados.

CIC Vale do Taquari

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